Iate Clube do Rio de Janeiro
Sáb, Nov 23, 2024

ICRJ recebe 27ª Buenos Aires - Rio

ICRJ recebe 27ª Buenos Aires - Rio

No dia 16 de fevereiro, encerrou-se a XXVII Regata Oceânica Buenos Aires-Rio. A largada foi no dia 4 de fevereiro para 11 barcos com 93 velejadores a bordo na classe ORC, dividida nas categorias ORC1 (5), ORC2 (5) e ORC Club Crew, representando Argentina e Brasil em uma regata de 1120 milhas náuticas de Buenos Aires até o Rio de Janeiro (Yacht Club Argentino/Iate Clube do Rio de Janeiro).
Na tarde do dia 11 de fevereiro, o barco ARA “Fortuna III”, da Armada Argentina, sagrou-se o Fita Azul da edição ao ser o primeiro a cruzar a linha de chegada às 16h39min31s. “Fizemos uma tática junto à costa e estivemos constantemente a analisar a evolução dos ventos para tomar a melhor decisão”, explicou o Comandante Alexis Puchetta, que também levou o título geral na classe ORC. Dentre os veleiros participantes, esteve o brasileiro Aries III, representante do ICRJ, que não concluiu a regata por ter quebrado no percurso.
O evento foi encerrado em uma animada cerimônia de premiação no Salão Marlin Azul, onde velejadores e convidados celebraram mais uma edição da tradicionalíssima Buenos Aires-Rio, realizada a cada três anos desde 1947.

Fotos da premiação: clique aqui

Resultados completos em buenosairesrio.org.ar

 

Relato de bordo
XXVII Regata Buenos Aires - Rio de Janeiro
ARIES III – Uma Odisséia

aries

Desejo, sonho, planos, orçamentos, cronogramas, realidade...
Enfim, o que é uma Regata Oceânica?
Apenas custos? Arrumar uma tripulação?
Quantidades: dinheiro e pessoas?
Não, não vejo assim.
É buscar segurança e performance, nas reformas e manutenções do barco.
É pensar em convívio e prazer em estar,
Escolhendo entes marinheiros: experiência e capacidade.
Conforto com uma boa alimentação, bons recursos de primeiros socorros,
Pensar na proteção individual e coletiva.
Tantas são as variáveis, que é quase impossível o controle de todas.
A razão e a emoção lutam entre si: o eficiente versus e suficiente.
Na realidade o que limita acaba sendo o orçamento, o “vil metal”.
Meses de preparação, muito estresse, muita ansiedade,
Soltam-se as amarras, vamos ao mar!
Uma travessia, é preciso chegar em Buenos Aires, para poder largar na Regata!
Tripulação de “delivery”, não precisa experiência em regatas, uma outra tribo.
Escolho mais quem pode, do que quem realmente possui experiência.
Forma-se uma equipe, camaradagem e rotina:
Rio-Itajaí; Itajaí-Rio Grande; Rio Grande-Buenos Aires.
Somos bem recebidos em todos os Portos.
Vivência frugal e de vida, convivência positiva, alegria em essência.
Em Buenos Aires, somos os únicos brasileiros!
No Yacht Club Argentino somos recebidos como irmãos:
“Nosso clube é vosso!”
Ambiente seguro, fraterno e diferenciado.
A oficina do clube nos ajuda sem custos ou demora:
“Isso existe? Isso é real? Sim, eu sou testemunha.”
Enfim, a tripulação de regata chega, vamos preparando o barco.
Dois tripulantes não virão, questões distintas, a saúde como limitador.
Os tripulantes inexperientes, do “delivery”, integram a tripulação de regata.
Vamos em cinco.
Qual Classe inscrever o barco? Um Clássico de 53 anos!
A Classe de Clássico não se forma, só nós, para formar uma Classe, ao menos três barcos.
Vamos de ORC Club, barcos semelhantes.
Chega o dia da largada, ansiedade sobe.
Somos informados que existe um desfile dos barcos, que seremos os primeiros.
Uniformes distribuídos, desfilamos como descrito na Instrução de Regata.
Coisa impressionante, o cais do clube lotado!
Somos saudados como velhos conhecidos, emocionante.
Vamos para a largada, é longe!
Largamos sem muita elegância, em último.
Vamos ao encalço da flotilha, com o rumo pré-determinado.
Cuidado com os baixios da costa argentina, os bancos de areia...
“Krrráááh”!!!
“O que foi isso!?”
“A Catraca!!! Ela quebrou, olhem, empenou!”
“Não, ela entrou no Convés. O Convés afundou! Vamos cambar, tirar a pressão dela.”
“O que faremos!? Estamos no início da Regata!!! Largamos apenas a algumas horas...”
“Vamos avaliar. Afinal, o rumo é prá lá! Para o Norte, pra casa...”
A tripulação de regata perde a estamina,
O barco transmite insegurança, a performance comprometida.
Acabamos por não seguir a estratégia de rumo traçada em terra.
Alongamos demais a pernada para o meio do Prata,
Nem Argentina, nem Uruguai, ficamos pelo meio.
Boiamos! A zona de alta pressão que vimos nas previsões nos envolve.
A flotilha avança rapidamente, deixando muitas milhas entre nós.
Desanimamos ainda mais.
Sirvo a canja de galinha feita em terra, aqueço um pouco os corpos, os sentidos.
Tento elevar os espíritos com bons rangos! Panquecas de café da manhã, salgadas e doces.
Vamos navegando, contabilizando as distâncias, escolhendo adversários.
Vamos saindo do Prata: Montevidéu, Punta del Leste, proa no oceano!
De balão, vamos nos distanciando da costa.
Os adversários seguem outra estratégia, vão pela costa.
Decidimos fazer diferente, na tentativa de nos aproximarmos.
No oceano, uma “bomba” de chuva e vento, sudoeste!
Baixamos o Grande, vamos apenas com um pedaço da Genoa, voamos!
Olhamos nossa posição, quase 300 milhas da costa, nos aproximamos da flotilha.
Hurra! Os espíritos se elevam!
“Teckkk!”
“Rá tá tá...”
“O que foi isso!?”
“Vejam, o Stay de Força de bombordo, está solto!”
“Solto não, o Fuzil partiu...”
Olhamos para o problema, muitas milhas ainda de vento de proa, nada a fazer.
Desistimos. Vamos para Rio Grande.
Em cruzeiro, motor e vela, vamos navegando com proa para terra.
É avisar ao Controle da Regata: “ARIES III desistiu da Regata”.
Agora é afagar a decepção, esquecer os tantos investimentos, e pensar no futuro.
Que venha a próxima Buenos Aires-Rio!!!
“Os sonhos não envelhecem!”.

Marcos Soares Pereira
ARIES III
Rio de Janeiro, 13/03/2023

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